A cada mês, um pesquisador da Universidade Federal da Bahia é homeneageado por seu trabalho.
O pesquisador do mês de maio é o professor do Instituto de Psicologia Antonio Virgílio Bastos, pesquisador I-A do CNPq, atuando principalmente em temas da área de Comportamento Organizacional. O CULTCIEN apresenta um trecho desta entrevista:
1. Professor Virgílio, o que despertou seu interesse pela Psicologia e pela Pesquisa?
Minha escolha pela Psicologia não se deu de forma muito diferente do que acontecia naquela época (1971), algo que, em linhas gerais, ainda continua sendo o padrão dominante daqueles que buscam este campo. A imagem social da Psicologia é extremamente limitada e fortemente associada à atividade clínica, psicoterápica, que nunca me atraiu de fato. Apesar de todas as mudanças e ampliações que ocorreram ao longo das últimas décadas, ainda há uma imagem forte que termina guiando a escolha pela Psicologia.
Naquela época, isto era ainda mais difícil por ser um curso muito novo entre nós, ainda sem nenhum profissional formado. A imagem social era pouco clara e compartilhada. Minha escolha se deu muito mais em função da exclusão de alternativas dentro de um campo limitado por ter feito o curso clássico, no Colégio Antonio Vieira, e ter me dirigido para o vestibular da área de Humanas. Terminei ficando entre Administração e Psicologia. Depois de formado não é que vim a me dedicar à Psicologia Organizacional e do Trabalho? E, hoje, sou professor do Instituto de Psicologia, mas atuo há mais de vinte anos no Programa de Pós-Graduação em Administração.
Outro elemento importante é que, talvez ate inconscientemente, eu já sabia que seria professor e pesquisador. O campo profissional propriamente dito nunca exerceu um maior fascínio sobre mim e não foi decisivo para a escolha da área.
2. Professor, o Senhor é bastante reconhecido por seu trabalho de pesquisa envolvendo técnicas e métodos quantitativos. Essa é uma vocação comum entre os psicólogos? De onde vem então essa sua competência?
Predominantemente utilizo estratégias de mensuração e análise que são quantitativos. Mas tenho em relação a estas questões metodológicas uma postura bastante pragmática. Tais decisões devem ser tomadas em função das nossas questões de estudo. Neste sentido, também tenho utilizado estratégias qualitativas e, não é raro o interesse em confrontar diferentes estratégias para estudar um mesmo fenômeno.
Ainda assim, se olharmos a minha produção como um todo, há um predomínio de estudos quantitativos. Mas, os últimos dez anos, compatível com uma abordagem mais construcionista e cognitivista para os fenômenos psicossociais em contextos organizacionais e de trabalho, levaram-me a combinar estas diferentes estratégias.
O estereótipo da psicologia é que ela lida com um mundo de subjetividade, impossível de ser apreendido a partir de abordagens quantitativas. Isto não corresponde efetivamente ao padrão dominante da pesquisa em psicologia, sobretudo a internacional, em que predominam abordagens quantitativas muito sofisticadas. No meu campo específico, a Psicologia Organizacional e do Trabalho, o domínio desta abordagem é muito forte. Mas ela não se restringe a esta área. Outras áreas da Psicologia apresentam o mesmo perfil metodológico de investigação. No entanto, a Psicologia é um espaço de grande dispersão e interfaces. Há fortes vertentes e campos em que abordagens qualitativas predominam.
Desde o meu mestrado, voltei-me para o estudo de métodos quantitativos. A dissertação envolveu construção e validação de instrumento. No doutorado já utilizei abordagens quantitativas e qualitativas. Mas também lá tive um razoável treinamento em estatística aplicada à Psicologia.
No entanto, a minha história de professor de metodologia me faz um interessado em questões metodológicas. Creio que este é um domínio importante para pesquisa e estudos, pois método não pode ser visto como uma camisa de força a sufocar a criatividade e os desafios postos pelos problemas. Sou um defensor do rigor metodológico que, para mim, não pode ser tomado como sinônimo de uso de estratégias quantitativas.
6. Como o Senhor vê a atividade de pesquisa e sua evolução na academia brasileira da sua área ao longo dos anos?
A Psicologia não pode ser comparada a áreas hard das ciências exatas, biológicas e da saúde. É um campo mais novo e com um desenvolvimento mais recente. Trata-se, também, de um campo com grande diversidade interna, com interfaces com inúmeros outros domínios e, portanto, com padrões de produção científica que ora se aproximam das ciências biológicas, ora das ciências sociais aplicadas, ora das ciências da saúde e, mesmo, da filosofia e das artes. É, portanto, um campo com características muito singulares e que exige políticas específicas para o seu crescimento.
Como campo de formação pós-graduada, a Psicologia tem crescido bastante nos últimos anos. Na última avaliação trienal éramos 53 programas de pós-graduação no país. Hoje já somos 65 e podemos terminar o triênio com 72. Este crescimento não eliminou a grande desigualdade regional, com a excessiva concentração de cursos no sudeste, especialmente São Paulo. Há um conjunto de cursos de excelência que tornam praticamente desnecessário o envio de alunos para doutorados plenos no exterior. Temos, portanto, uma boa cobertura das diversas subáreas que integram o campo, apesar de alguns desequilíbrios visíveis.
Como campo científico, a Psicologia também tem revelado crescente vigor, com a ampliação dos grupos de pesquisa, a constituição de inúmeras redes, o aumento dos indicadores de produção, o aumento do número de bolsistas de produtividade do CNPq. Trata-se de um domínio em que já há subáreas com bom índice de internacionalização, o que não é, contudo, o padrão de toda a área.
Na academia, a Psicologia vivencia, ainda, a tensão entre uma formação profissional, muitas vezes tecnicista e dirigida para um foco de problema, e uma formação científica. Esta polaridade nem sempre é bem equacionada pelos currículos de formação. Aqui estou me reportando às instituições públicas e algumas confessionais em que a pesquisa já se encontra inserida. O maior problema da área, contudo, é que a grande maioria dos profissionais formados é egressa das instituições particulares que, regra geral, não desenvolve a pesquisa como uma dimensão básica da formação, mesmo do profissional em psicologia. Este é um quadro que precisa mudar com urgência, não apenas para fortalecer a comunidade científica da Psicologia, mas, sobretudo, para assegurar uma formação de maior qualidade ao psicólogo que lidará com as demandas da sociedade.
Entrevista completa em
http://www.portal.ufba.br/pesquisador_mes/
Link para currículo lattes
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=W90354
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